sábado, 23 de junho de 2012

artes

SÉCULO XIX NO BRASIL(II): A MODERNIZAÇÃO DA ARTE

por Fabio Aquino - Artes, terça, 28 de Fevereiro de 2012 às 15:38 ·
Em meados do século XIX o Brasil passou por um período de crescimento econômico, estabilidade social e incentivo às letras, ciência e arte por parte do imperador dom Pedro II. A arte, entretanto, ainda refletia a influência da escola conservadora européia.


A PINTURA ACADÊMICA NO BRASIL:


Desse período destacam-se, na pintura, as obras dos brasileiros Pedro Américo, Vítor Meireles e Almeida Júnior, que estudaram na Academia Imperial de Belas-Artes.

O paraibano Pedro Américo de Figueiredo e Melo (1843-1950) foi para o Rio de Janeiro em 1854 e frequentou a Academia. De 1859 a 1864 estudou na Escola de Belas-Artes de Paris. Pintou temas bíblicos e históricos, retratos, alegorias e figuras humanas. De sua obra destacam-se a Rabequista árabe e a Independência ou Morte. Pedro Américo foi à Europa na época em que começavam as primeiras manifestações impressionistas, mas se manteve fiel à Academia: sua pintura refletia a tradição da pintura de idealizar a realidade, dando-lhe formas belas. Curiosamente, como era um excelente desenhista, fez também caricaturas, criação que depende bastante da capacidade de observação do artista. Nelas exagera-se com intenção de humor alguma característica do retratado. Seu prestígio nesse campo lhe permitiu participar, em 1870 e 1871, de uma revista de caricaturas chamada A Comédia Social.



Rabequista árabe, de Pedro Américo. Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro. Veja abaixo:



  1. Representação detalhista da tapeçaria ao fundo;
  2. Note também a expressão da jovem, que parece olhar atentamente para alguem que não vemos (quem será?);
  3. Observe como o artista representou bem os tecidos: as dobras da túnica;
  4. Note como as mãos da rabequista são expressivas e parecem extrair um belo som de seu instrumento (rabeca);
  5. Rabeca: instrumento musical tocado com arco, em geral de fabricação rústica, é usado em musica folclórica e popular. Seu nome foi usado por muito tempo para o que hoje chamamos de violino.


Independência ou morte (1888), de Pedro Américo. Dimensões: 7,60 m x 4,15 m. Museu Paulista . São Paulo. Também conhecida como "O Grito do Ipiranga" .Todo o quadro transmite uma forte impressão de movimento. Veja abaixo:



  1. D. Pedro I proclamando a Independência do Brasil;
  2. Acompanhantes de D. Pedro I;
  3. A direita e a frente do grupo principal, num grande semicírculo estão os cavaleiros da comitiva;
  4. À esquerda, em contraponto aos cavaleiros, vê-se um carro de boi guiado por um homem do campo que observa a cena.



Capa da revista A Comédia Social (1871), com caricatura feita por Pedro Américo. A imagem representa José de Alencar (à esquerda) e o diplomata Visconde do Rio Branco (à direita). Os dois estão com uma das mãos em vespeiro; isso significa que na época eles se envolveram em algum assunto delicado para o cenário político do nosso país.






O catarinense Vítor Meireles de Lima (1832-1903) foi ainda jovem para o Rio de Janeiro, onde se matriculou na Academia. Visitou a França e Itália e conheceu melhor o trabalho dos pintores desses países. Em Paris produziu sua obra mais famosa. A primeira missa no Brasil, exibida com grande sucesso no salão de Paris em 1861.







A primeira missa no Brasil (1860), de Vitor Meireles. Dimensões: 2,68m x 3,56m Museu Nacional de Belas-Artes, Rio de Janeiro. Esta obra baseia-se no relato de Pero Vaz de Caminha, imcumbido pela corte portuguesa de escrever sobre a viagem de Pedro Alvares Cabral. Assim, algumas cenas deste relato








José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899), por vezes considerado o mais brasileiro dos pintores do século XIX, nasceu no interior de São Paulo. Em 1869 começou a freqüentar a Academia, no Rio de Janeiro, onde foi aluno de Vítor Meireles. Viveu em Paris entre 1876 e 1882. De volta ao Brasil, fez uma exposição no Rio de Janeiro e retornou a sua cidade natal, Itu, onde produziu obras que ficaram famosas, como Saudades .









Saudade (1899), de Almeida Junior. Dimensões: 1,97m x 1, 01m. Pinacoteca de São Paulo. Perceba que neste quadro há elementos que representam a simplicidade das pessoas da casa (o chapei pendurado próximo a janela; as vestes da mulher; paredes e pisos; entre outros). Ao observar os gestos da moça que segura um papel em uma das mãos - quem sabe uma carta - que lê atentamente; com a outra mão cobre parcialmente seu rosto com um xale. A expressão de seu rosto transmite uma tristeza que justifica o título do quadro. Perceba o efeito de luz e sombra na tela: toda a claridade da cena parece vir da janela da qual a moça está prõxima.


O ACADEMICISMO É SUPERADO:



Os artistas que freqüentaram a Academia seguiram os padrões trazidos pela Missão Artística Francesa : a beleza perfeita é um conceito ideal; portanto, não existe na natureza. Assim, o artista não deve imitar a realidade, mas tentar criar a beleza ideal por meio da imitação dos clássicos, notadamente dos gregos, que mais se aproximam da perfeição criadora. Como, porém, as pinturas originais gregas não foram preservadas, a referência de perfeição artística é encontrada nas pinturas renascentistas, principalmente de Rafael. Os artistas da Academia seguiam, então, rígidos princípios para o desenho, o uso das cores e a escolha dos temas-mitológicos, religiosos e históricos.

Entretanto, os artistas brasileiros da segunda metade do século XIX começaram a seguir novas direções. Essa tendência se acertou no final do século, com a influência dos artistas que foram à Europa e conheceram o impressionismo e o pontilhismo . Tal mudança já aparece em algumas obras de Belmiro de Almeida e Benedito Calixto, mas pode ser vista mais claramente no trabalho de Eliseu Visconti.







O mineiro Belmiro Barbosa de Almeida (1858 - 1935) foi aluno da Academia. Mais tarde estudou na Europa influenciado-se pelos pintores franceses. No quadro Efeitos do sol percebe-se esta influência.








Efeitos do sol (1892), de belmiro de Almeida. Dimensões: 100 cm x 65 cm. Museu Nacional de Belas-Artes do Rio de Janeiro. Perceba que nesta tela não é possível perceber com tanta nitidez a paizagem e a moça que caminha, pois toda a cena está inundada com a luz do sol. Assim, o artísta, consguiu criar efêitos de luminosidade como anuncia o título da obra. Esta obra reproduz uma cena ao ar livre, com efeitos de luz natural, característica infuenciada pelo impressionismo.






Benedito Calixto (1853 - 1927) nasceu no litoral de São Paulo. Provavelmente iniciou seus estudos artísticos como autodidata. Em 1853 viajou para París, onde estudou desenho e pintura. No ano seguinte, voltou ao Brasil e foi morar no litoral. Suas obras retratam paisagens litorâneas - as cidades de Santos e São Vicente - e urbanas - a cidade de São Paulo). Pintou também retratos e temas históricos e religiosos.






Inundação da Várzea do Carmo (1892), de Benedito Calixto. Dimensões: 1,25 m x 4 m. Museu Paulista de São Paulo.


O IMPRESSIONISMO CHEGA AO BRASIL:

São as obras de Eliseu D’Angelo Visconti (1866-1944) que abrem definitivamente o caminho da modernidade à arte brasileira. Pintor, decorador e desenhista, ele não se preocupa mais em seguir os renascentistas italianos; busca, isto sim, registrar os efeitos da luz solar nos objetos e seres humanos que retrata em suas telas.

Nascido na Itália, Visconti veio para o Brasil com menos de 1 ano de idade. Em 1892 foi à Europa, onde frequentou a Escola de Belas Artes de Paris e o curso de arte decorativa na Escola Ghérin. Voltou para o Brasil em 1900 e passou a realizar diversos trabalhos: ensinou pintura histórica na Escola Nacional de Belas Artes, criou imagens para selos postais e pintou o pano de boca do Teatro Municipal do Rio de Janeiro .



O Pano de Boca do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, pintado por Visconti em 1908. Pintura a óleo sobre pela de 224 metros quadrados é uma das cinco maiores telas do mundo em tamanho. O tema desta obra é cheia de imagens históricas e simbólicas, contendo personalidades brasileiras da época (Carlos Gomes, D. Pedro II, Pedro Américo e Castro Alves), além de artistas consagrados de todos os tempos ( Shakespeare, Beethoven e Rembrandt), como também personalidades clássicas (Homero e Péricles - figuras que simbolizam a poesia, a arte, a verdade e a ciência). Esta obra segue uma tendência realista, mas com uma influência do impressionismo em algumas áreas de composição (imagens que estão mais ao fundo e mais distantes do primeiro plano).


A ARQUITETURA REFLETE A RIQUEZA:


No final do século XIX e início do século XX a arquitetura brasileira passou por mudanças e seguiu principalmente duas tendências europeias: o Ecletismo e o Art Noveau (Arte Nova). O Ecletismo reunia estilos do passado, principalmente os de finalidade decorativa. Assim, alguns arquitetos mesclavam, num mesmo edifício, elementos greco-romanos, góticos, renascentistas e mouriscos. As casas dos mais ricos passaram a ser ornamentadas com relevos de estuque , platibanda (espécie de mureta que circunda o alto de um edifício e esconde o telhado), grandes vidraças e ferragens importadas da França e da Bélgica. As cidades do norte do país (Belém, Manaus), enriquecidas com a borracha, desenvolveram uma arquitetura requintada e de acordo com as concepções ecléticas.



Ver-o-Peso, mercado de Belém do Pará. Situado na região portuária da cidade, foi criado em 1688, tendo passado por modificações ao longo do tempo. No final do século XIX, essas mudanças se acentuaram porque teve início o comércio da borracha na Amazônia para atender às necessidades da industria de pneus para automóveis, que começavam a ser fabricados na América do Norte e na Europa. A riqueza gerada promoveu novas mudanças na região do mercado, sendo edificado um novo mercado feito de ferro trazido da Inglaterra e construções conforme o estilo eclético.



Teatro Amazônas. Inaugurado em 1896, construído com estruturas metálicas, mármores e cristais importados.




Interior do Teatro Amazônas. Grande parte de sua decoração foi feita por um artista brasileiro: Crispim do Amaral (1858 - 1911).


O ART NOVEAU:


Art Noveau , "arte nova" em francês), foi um estilo estético essencialmente de design e arquitetura que também influenciou o mundo das artes plásticas. Era relacionado com o movimento arts & crafts e que teve grande destaque durante a Belle époque , nas últimas décadas do século XIX e primeiras décadas do século XX. Relaciona-se especialmente com a Revolução Industrial em curso na Europa com a exploração de novos materiais (como o ferro e o vidro, principais elementos dos edifícios que passaram a ser construídos segundo a nova estética) e os avanços tecnológicos na área gráfica, como a técnica da litografia colorida que teve grande influência nos cartazes. Devido à forte presença do estilo naquele período, este também recebeu o apelido de modern style (do inglês, estilo moderno).

No Brasil, teve fundamental participação na divulgação e realização da art nouveau o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo . Um dos maiores nomes desse estilo, no Brasil, é o artista Eliseu Visconti, pioneiro do design no País.

Em São Paulo existe um exemplo significativo da arquitetura art nouveau: A Vila Penteado . Essa construção, que em 1948 passou a abrigar a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, foi projetado pelo arquiteto sueco Carlos Ekman para a residência do Conde Alvares Penteado.



Vila Penteado. Construido em 1902, o prédio tem sua parte externa bastante sóbria, pouco decorada. O interior da antiga residência porém, possui revestimentos de madeira e inúmeros detalhes decorativos que evidenciam os traços da arquitetura art nouveau, como o desenho das portas e os frisos das paredes.





Eliseu d'Angelo Visconti (Giffoni Valle Piana, 30 de julho de 1866 — Rio de Janeiro, 15 de outubro de 1944) foi um pintor, desenhista e designer ítalo-brasileiro ativo entre os séculos XIX e XX. É considerado um dos mais importantes artistas brasileiros do período. Nascido na região italiana da Campânia, emigrou com a família para o Brasil entre 1873 e 1875. A família instalou-se no Rio de Janeiro, onde estudou no Liceu de Artes e Ofícios (1883) e na Academia Imperial de Belas Artes (1885). Foi discípulo de Zeferino da Costa, Rodolfo Amoedo, Henrique Bernardelli, José Maria de Medeiros e Victor Meirelles.





Roupa estendida de Eliseu Visconti. Dimensões: 67 cm x 82 cm. Coleção Agnaldo de Oliveira. Características impressionistas representados pelos efeitos de luz natural.



A FOTOGRAFIA CHEGA AO BRASIL:


A criação do daguerreótipo , em 1839, é considerada o ponto de partida da fotografia. Acredita-se que esse invento tenha chegado ao Brasil em 1840.



O daguerreótipo é um processo fotográfico feito sem uma imagem negativa.


Inicialmente, a produção de imagens por meio de uma máquina era muito cara: apenas os muitos ricos encomendavam seus retratos, assim como os nobres contratavam pintores para fazer seus retratos. Nas décadas de 1850 e 1860, com o aperfeiçoamento técnico, esse tipo de reprodução tornou-se acessível a um maior número de pessoas. No Brasil, o passo seguinte foi o documentário fotográfico, isto é, o registro fotográfico de ruas e regiões das cidades brasileiras. Nesse campo, destacam-se Marc Ferrez (1804-1879) e Militão de Azevedo (1837-1905).





_________________
Marc Ferrez
















_________________
Militão de Azevedo






Praia de Copacabana (1895), de Marc Ferrez. Coleção Gilberto Ferrez. Retrata toda simplicidade da praia de Copacabana de 1895, no Rio de Janeiro, através dos barcos de pesca e do chapelão do homem abaixo e a direita.



Rua são Bento (1862), de Militão. Coleção de Beatriz e Mário Pimenta Camargo. São Paulo. Perceba que esta fotografia nos permite conhecer não apenas a paisagem da época, mas também os costumes, as roupas, a arquitetura e os cavalos como meios de transporte.







_____________
A fotografia brasileira desenvolveu-se muito na passagem para o século XX e esteve presente em exposições internacionais. Exemplo disso é o trabalho de Valério Vieira (1862-1941) em sua obra Os trinta Valérios.






Os trinta Valérios (1890), foto montagem de Valério Vieira. Arquivo de Maria Luisa Vieira. Observe que, nesta fotomontagem aparecem trinta personagens numa sala, sendo que todas elas, porém, têm o rosto do próprio fotografo.


Em 1908, Valério ganhou o primeiro prêmio na Exposição Nacional do Rio de Janeiro com uma foto de doze metros de extensão chamada Panorama da cidade de São Paulo.



Parte do panorama da cidade de São Paulo, feito por Valério Vieira, em 1922.


artes

Nenhum comentário:

Postar um comentário